Do Livro “Cérebros e Computadores – A complementaridade analógico-digital na informática e na educação” de Robinson Tenório.
Tensão Analógico-Digital
Sentido comum: Dispositivos tecnológicos
Sentido epistemológico: Estatuto relacionado a:
Formas de Comunicação
Tipos de Informação
Modelos Científicos e Didáticos
Maneiras de se produzir Imagens
1. Comunicação
A comunicação digital se faz por meio de informação digital. Troca de mensagens binárias, tipo sim ou não. Exemplo: Jogo de adivinhação em que se deve descobrir o objeto apenas com perguntas do tipo sim ou não.
Watzlawick: A comunicação analógica é toda a comunicação não-verbal. Abrange postura, gestos, expressão facial, inflexão de voz, seqüência, ritmo, cadência de palavras. Exemplos fora do contexto da comunicação humana direta: Código Morse e Comunicação por imagens. Em síntese, ela está ligada às relações humanas entre sujeitos.
“Os seres humanos comunicam digital e analogicamente. A linguagem digital é uma sintaxe lógica complexa e poderosa, mas carente de adequada semântica no campo das relações, ao passo que alinguagem analógica possui a semântica mas não tem uma sintaxe adequada para definição não-ambígua da natureza das relações.” Watzlawick.
Exemplo: Escrita chinesa, de caráter analógico em que faltam muito dos elementos que abrangem a morfologia e a sintaxe da linguagem digital.
Exemplo: Casamento: Analógico (afinidades) e Digital (aliança e registro).
Exemplo: Re-contextualização e Re-personalização (digital para analógico)
Re-descontextualização e Re-despersonalização (analógico para digital)
Na comunicação digital, o simbólico simula (simboliza) o que deve ser comunicado (simbolizado). A comunicação analógica é indicial e icônica.
[Peirce] Tripartição dos signos:
Índices: Vestígios sensíveis (marca dos pés na areia). É manifestação direta do fenômeno. Estão na origem do processo significante devido a continuidade entre significante e significado. A diferença entre eles (“corte semiótico”) ainda não está plenamente realizada.
Ícones: Relação por analogia, mas sem contigüidade. O contato é perdido. Exemplo: Sinal de Proibido Fumar.
Símbolos: Ruptura também da continuidade. São signos arbitrários, como Matemática e Sistemas Lingüísticos. Não opera por analogia, mas por distinção. É arbitrário e discreto.
“O pólo simbólico é (...) o pólo do desligamento, (...) um pólo frio. (...) É abstrato, portanto mais móvel, embora impessoal, até mesmo desumano. Culmina com os enunciados ditos científicos, capazes de viajarem longe de sua fonte.(...) No entanto, essa pretensão à universalidade se paga com a renúncia ao sensível. O pólo indicial, por outro lado, é um pólo quente, o pólo fusional dos contágios, expressões emotivas, vestígios e metonímia em geral: é, por excelência, o que leva a massificação no indivíduo.” [Bougnoux, 1994].
Ricoeur rejeita o dilema analógico-digital: “Ou praticamos a atitude metodológica, mas perdemos a densidade ontológica da realidade estudada, ou praticamos a atitude de verdade, e somos forçados a renunciar à objetividade das ciências humanas”. [Do Texto à Ação, 1989].
A comunicação indicial confunde elementos usualmente separados pela digital:
A mensagem e seu meio (Em Roma, se a notícia fosse ruim, o mensageiro era morto)
O conteúdo e a relação (Comunicação entre apaixonados)
Emissor e receptor (Emaranhando os sujeitos comunicantes)
A comunicação digital é continuamente complementada com impulsos indiciais (concertos de rock, manifestações políticas ou religiosas, sedução da publicidade) que trazem consigo o corpo, parte exilada da comunicação digital. Exemplo: Chamadas da TV: “Uma gata radical apronta com a galera”.
Exemplo tecnológico de dissolução do digital no analógico e vice-versa: Construção computadorizada de imagens ponto a ponto (pixels) definidos numericamente (digital).
Comunicação Analógica e
Digital
Véron (1980), ao discutir as “regras constitutivas da matéria significante”, introduz quatro dimensões de análise dos fenômenos translingüísticos:
(A) substituição/contigüidade (contigüidade empírica entre a matéria significante e o que ela remete)
(B) descontinuidade/continuidade (poder ou não isolar unidades discretas na matéria significante)
(C) arbitrário/não-arbitrário
(D) não-similaridade/similaridade
Casos contraditórios: A-/C+, D-/C+, A-/D-.
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digital |
pintura não figurativa |
ação |
objeto |
analógico digitalizado |
analógico |
gráficos contínuos |
gráficos discretos |
Código binário |
Mondrian |
soco |
trio elétrico |
vitral |
fotografia |
função real |
fluxograma |
substitui |
substitui |
contíguo |
contíguo |
substitui |
substitui |
substitui |
substitui |
discreto |
contínuo |
contínuo |
discreto |
discreto |
contínuo |
contínuo |
Discreto |
arbitrário |
arbitrário |
solidário |
solidário |
solidário |
solidário |
solidário |
Solidário |
distinto |
distinto |
distinto |
distinto |
similar |
similar |
distinto |
Distinto |
Língua portuguesa (23 letras), Numeração indo-arábica (10 cifras) e Computação (2 sinais binários).
Léxica – Sintática – Semântica.
A comunicação efetuada através de códigos digitais implica na preexistência dos significados, e não na produção de significados durante o processo de significação. O código digital se torna artificialmente meio de troca comunicacional, incrementando o processo de mercantilização da informação, do conhecimento.
2. Informação
Informação e conhecimento: Acrescentam valor aos produtos no processo de produção e são instrumentos essenciais de apoio a decisões. Importância na administração da Informação.
O computador manipula Dados, os usuários interpretam os Dados e produzem Informação, que será transformada em Conhecimento. Daí, a exigência de um Julgamento de Valor: antes dele, o Dado não tem significado.
Sentido Jornalístico: Informação significa “o relato de alguma coisa”.
Confusão: A Informação é pretensamente objetiva e o Relato é subjetivo (relativo ao sujeito).
Sentido contemporâneo de Informação
Origens:
1. Movimento histórico de concepções construindo a separação entre forma e conteúdo.
2. Desenvolvimento de técnicas de transmissão de mensagens, através de sinais elétricos.
3. Desenvolvimento da lógica moderna, até o conceito de algoritmo de Turing e Post (1936).
A Teoria da Informação de Shannon (1949) é uma teoria dos sinais, voltada para o problema de engenharia, ignorando os aspectos semânticos, sendo caracteristicamente digital. Ela foi elaborada com o objetivo de reduzir a incerteza.
A quantidade de Informação I de uma mensagem m de um conjunto contendo n mensagens possíveis e equiprováveis é: I = log2 n, onde a unidade básica de informação é o bit (0 ou 1).
Ex: Dígitos decimais: log210 = 3.32 bits. Letras: log226 = 4.70 bits.
Assim, um sinal informa na medida em que afasta outras possibilidades. A informação pode ser quantificada sem considerações acerca do significado da mensagem.
No entanto, o que é informação para um sujeito pode ser ruído para outro, já que a própria existência da informação é relativa a um código, a um sistema externo e arbitrário de referência.
Com a Teoria da Informação, é importante distinguir informação digital (codificado de forma simbólica e numérica) e analógica (contínuo, como ondas de rádio).
Problema: Qual a Quantidade de Informação de uma nota de violino? Freqüência varia entre 200 hz e 1600 hz. Há um número infinito de notas, gerando uma quantidade infinita de incerteza associada ao conjunto de notas.
Análise de Edwards, 1974: O ouvido humano só pode distinguir sons separados por uma distância mínima (±40 hz). Assim, temos 37 notas e I = log237 = 5.21 bits/sinal.
“O leitor poderá objetar, dizendo que há um sentido em que a altura das notas é verdadeiramente contínua e que alteramos o problema mediante a introdução de um ouvinte humano, com seu falível mecanismo auditível. (...) No entanto, qualquer dispositivo de medida (...) estará sujeito ao mesmo gênero de limitação, (...) de modo que, em última instância, nossos sinais só podem ser classificados num número finito de categorias” [Edwards, 1974].
No entanto, isso não decorre o caráter digital exclusivo do universo, ontologicamente falando, nem do nosso conhecimento sobre ele.
A Teoria da Informação subjetiva (Weltner, 1975) e a Teoria semântica da Informação (Devlin, 1991) são tentativas de superar a ausência de significados na Teoria da Informação de Shannon.
Weltner usa o conceito (probabilístico) de informação subjetiva, na tentativa de medi-la. Ele, por exemplo, define trans-informação, como uma medida de correlação estatística. Assim, a trans-informação de um campo X com relação a um campo Y seria a informação que expressa o conhecimento de um campo aplicável ao outro.
Devlin
envereda pela caracterização de percepção e cognição em termos de informação
analógica e digital: “Um sujeito obtém informação do ambiente em dois
estágios. O primeiro estágio é a percepção: a informação torna-se diretamente
disponível ao sujeito através dos sentidos; o fluxo de informação nesse estágio
é sempre analógico, qualquer que seja a informação considerada. O segundo
estágio é a cognição: do contínuo analógico, itens específicos de informação
são selecionados; a informação aqui é digital. Assim a distinção
percepção-cognição é correlata à distinção analógico-digital”.
Crítica: “Não estamos de acordo com o modelo dicotômico apresentado, que atribui caráter exclusivamente analógico à percepção, e exclusivamente digital à cognição. Tais processos são muito mais complexos e a interação entre eles não autoriza uma atitude dualista de qualquer espécie” [Damásio, 1996].